sexta-feira, 6 de março de 2009

Dois poemas de Anita



Prefiro a Chama

Prefiro ócio ao tédio
E que não tenha remédio
O gozo da paz em demasia

Prefiro o platônico ao cumprido
Porque quero querer sempre.

Prefiro o ópio ao lítio
Só pelo fresco charme da vogal.

Prefiro o vazio ao cheio
Diante do copo vazio:
A cabeça cheia
E um sutil impulso ao prazer.

Prefiro o antes ao depois
Melhor que a saciedade,
Só o frio na barriga.

E antes de tudo e depois de nada
Prefiro a chama à brisa
Em mim a brisa vem do ar
E a chama acende do corpo



Mocidade

Sim, sei:
Linda, leve e louca.
E 'inda mais: breve.

Daquelas que tira a roupa
Mostra-se toda
E de repente se veste

D'umas que no frio tremem
No calor soluçam
E na paz provocam

E mais ainda
Na luz se fecha para não se expor
É filha bastarda d'uma dor:
A tal da mocidade.


Anita Baltazar

* a pintura, o "Nu sentado", é do pintor italiano Amadeo Modigliane (1884-1920).

* os dois poemas foram publicados no site Recanto das Letras.

http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=31168

Apresento-lhes, Anita Baltazar, a poeta dos versos doudos

Seguindo o exemplo de minha brotinha, Juliana Walczuk, apresento-lhes a primeira amiga poeta.

Anita Baltazar:

Uma carioca frustrada no Planalto Central. Morre de saudades da praia e da malandragem do Rio. Seu sambista favorito é o Cartola.

Poeta moderníssima com influências do ultra-romantismo.

Mas não cometamos a maldade de emoldurá-la em escolas literárias, isso seria pior que a crucificação. Digamos simplesmente que ela é "cria de Álvares de Azevedo"; tal como ela mesma declarou num dos seus versos: "Jaz uma cria do Álvares em horrores".

Hoje, Anita Baltazar vive um idílio com o cantor e poeta Agenor de Miranda, o Cazuza. Mas afiança que não está, com essa relação, traindo o "poeta da Taverna". Fofocas literárias (putz!), que tosco, isso tá parecendo programa do Leão Lobo!

Agora digo a minha experiência com sua poesia. Diante daqueles poemas cheios de ultra-romantismos eu pensava comigo mesmo: "acho que o século XXI está perdendo uma grande poeta para o século XIX". Pensei isso porque não duvidava da qualidade dela como poeta, sem dúvida admirável. Mas porque achava (equivocado) que ela tinha perdido o bonde da história. Agora vejo (com alegria) que tinha me enganado.

A cada poema que ela publica mais e mais me surpreendo, com a força do lirismo, com a desenvoltura, a ousadia de migrar do verso livre para o metrificado e vice-versa, a sensualidade, o sarcasmo mordaz, o espírito tempestuoso. Entre outras coisas que não se explicam com palavras. Trata-se daquela essência, daquele mistério impenetrável, território d'alma por excelência. São simplesmente belíssimos os versos dessa poeta douda. Leiam no site Recanto das Letras:

http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=31168

Abram alas, que a banda vai passar!


Estava à toa na vida, bisbilhotando alguns desses blogs de nossa internet, quando entrei no blog de uma amiga minha, Juliana Walczuk, poetisa com vocação pra brotinho. Nesse blog de minha amiga uma coisinha me chamou atenção e me deu - mesmo sem querer - uma idéia que julguei brilhante.

http://luridlushofalunatic.blogspot.com/

Numa postagem do dia 5 de fevereiro ela publicou um texto onde divulga e declara sua admiração por três escritores que surgiram em sua vida. Os três escritores citados, apesar das diferenças, possuem algumas coisas em comum: são anônimos, jovens, iniciantes e moram no Distrito Federal. São eles (ou elas... depende do ponto de vista), Anita Baltazar, Lívia Araújo e Alex Canuto. Devo dizer que as duas primeiras também me inspiram grande admiração; quanto ao terceiro, sou suspeito pra fazer qualquer declaração a respeito. Prefiro me calar.

Lendo essa coluna, no blog da Juliana, tive a "grande" sacada. Veio-me a luz, e com grande contentamento e espanto, gritei, tal como o filósofo Pitágoras: eureca!

Acudiu-me a idéia de fazer um blog onde divulgasse o trabalho dos meus amigos. Sejam eles poetas, escritores, pintores, músicos, enfim, todo aquele que faz arte ou qualquer coisa que o valha. Inclusive aqueles que insistem em dizer que não são poetas (como certas lívias!), mas não vou citar nomes aqui pra não magoar ninguém, que não sou pessoa desse tipo.

O certo é que pretendo dar a esse blog um cunho jornalístico, fazendo ligeiras pinceladas biográficas sobre aqueles que abordarei, comentando a "obra" (ou cagada) de cada um, entrevistando, e, obviamente, publicando suas produções: sejam elas poemas, canções, vídeos, desenhos e etc. Não pretendo, com esse blog, me limitar à efêmera cultura do entretenimento, prática comum nos nossos tempos, principalmente na grande mídia. A arte não pode ser encarada como uma realização gratuita, mercantilizada, descartável, mas como uma necessidade profunda do ser humano, que lhe permite transcender a realidade através da linguagem.

Entendo que a arte precisa de espaço, que luta por espaços, que precisa ser encarada de frente, com sensibilidade, e eu, como amante e apreciador daquilo que entendo como arte, quero empunhar minha bandeira a favor daqueles que estão começando a exercitar os ossos do ofício agora. Ainda mais pensando num país como o nosso, que, apesar das últimas gestões do MinC, ainda vem somando uma enorme dívida com a cultura do seu povo.

Sei que esse espaço será modesto, quase como um quartinho numa selva de edifícios. Mas as portas e as janelas desse quarto estarão escancaradas para quem quiser entrar. Sozinho não venço guerra nenhuma. Sei o quanto o meu empreendimento é quixotesco, sujeito a desilusões. Então peço, aqueles que me lêem no momento, que me ajudem a divulgá-lo. No boca-a-boca vamos à Roma, à China, à Pasárgada, aos confins da Mancha!

Formemos, pois, um bloco, e abram alas, pois agora a banda vai passar!

( PS: na falta de nome melhor, o blog se chamará "Tablóide Literário". Se algum amigo aí tiver um nome melhor, favor me diga.)


Alex Canuto de Melo